quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Cortiços - Verão Arte Contemporânea



Espetáculo: CORTIÇOS
Concepção: Cia. Luna Lunera e Tuca Pinheiro
Direção: Tuca Pinheiro
Produção: Cia. Luna Lunera
Quando: 27 e 28 de Janeiro de 2009
Terça e Quarta às 21h
Onde: Teatro Francisco Nunes (Av. Afonso Pena, s/n - Parque Municipal – Belo Horizonte - MG)
Quanto: R$12 (inteira) e R$6 (meia)
Classificação: 16 anos
Contatos: Cláudio Dias - Direção de Produção
(31) 8857-4985 / 3444-7983 - cia.lunalunera@gmail.com

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Projeto Oficinão Residência 2009

O Galpão Cine Horto encerrou, no dia 5 de janeiro, a primeira etapa do processo seletivo para a proposta de montagem do Oficinão Residência 2009. O projeto selecionado para esse ano é “Fome de quê?”, do ator e diretor mineiro Lenine Martins. De 12 de janeiro a 27 de fevereiro, acontece a segunda fase, com as inscrições para a SELEÇÃO DE ATORES.A partir daí, Lenine Martins e a coordenação do Galpão Cine Horto farão uma seleção dos currículos e, posteriormente, ministrarão a Oficina-teste, na qual serão escolhidos os novos participantes do Oficinão.A proposta desse ano foi selecionada por uma comissão formada por Chico Pelúcio (diretor do Galpão Cine Horto e ator do Grupo Galpão), Eduardo Moreira (ator do Grupo Galpão), Leonardo Lessa (coordenador geral do Galpão Cine Horto) e Kenia Dias (diretora do Oficinão Residência 2008). Ao todo foram dez propostas enviadas, sete de Belo Horizonte, duas do interior de Minas (Divinópolis e Uberaba) e uma do Rio de Janeiro.O projeto “Oficinão Residência” é uma realização do Galpão Cine Horto, com o patrocínio da Usiminas, Cemig e Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Lançado em 2008, o formato Residência prevê uma parceria entre o Galpão Cine Horto e um diretor/pesquisador, que coordena, ao longo de um ano, o processo criativo de um espetáculo. Esse formato abre espaço para propostas de todas as regiões do país e traz uma nova força ao projeto. O espetáculo resultante do projeto em 2008, “ArriscaMundo”, realizado pela diretora Kênia Dias, estará em cartaz no Galpão Cine Horto, de 15 de janeiro a 01 de fevereiro.Desde 1998, o Galpão Cine Horto realiza o projeto “Oficinão”, uma oficina gratuita de reciclagem para atores com experiência. Esse projeto é um investimento na qualificação de um grupo de artistas criteriosamente selecionados, que recebem treinamento gratuito em diversas áreas ligadas ao fazer teatral. Ao término do período de um ano de trabalho essencialmente experimental e investigativo, os atores-alunos apresentam ao público o resultado de sua pesquisa cênica, em forma de espetáculo.

Fonte: http://www.grupogalpao.com.br/

Festival Cenas Curtas 2009

GALPÃO CINE HORTO LANÇA EDITAL PARA O 10º FESTIVAL DE CENAS CURTAS
O Centro Cultural Galpão Cine Horto abriu em 24 de novembro de 2008, o edital para o 10º Festival de Cenas Curtas. As inscrições para grupos e projetos de todo o país ficam abertas até o dia 13 de março de 2009 e devem ser feitas pelo correio ou no Galpão Cine Horto. Tradicionalmente organizado em formato de mostra, o “Cenas Curtas” reúne todo ano 16 cenas de palco, ao longo de quatro dias de apresentações. Dessa mostra, são escolhidas, pelo público, as quatro melhores cenas (uma de cada dia) que, juntamente com uma cena escolhida por uma comissão especializada, cumprem curta temporada no Galpão Cine Horto.

Ver o edital no site: http://www.grupogalpao.com.br/

Escutatória - Rubem Alves


Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma“. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia.
Faz muito tempo, nunca me esqueci. Eu ia de ônibus. Atrás, duas mulheres conversavam. Uma delas contava para a amiga os seus sofrimentos. (Contou-me uma amiga, nordestina, que o jogo que as mulheres do Nordeste gostam de fazer quando conversam umas com as outras é comparar sofrimentos. Quanto maior o sofrimento, mais bonitas são a mulher e a sua vida. Conversar é a arte de produzir-se literariamente como mulher de sofrimentos. Acho que foi lá que a ópera foi inventada. A alma é uma literatura. É nisso que se baseia a psicanálise...) Voltando ao ônibus. Falavam de sofrimentos. Uma delas contava do marido hospitalizado, dos médicos, dos exames complicados, das injeções na veia - a enfermeira nunca acertava -, dos vômitos e das urinas. Era um relato comovente de dor. Até que o relato chegou ao fim, esperando, evidentemente, o aplauso, a admiração, uma palavra de acolhimento na alma da outra que, supostamente, ouvia. Mas o que a sofredora ouviu foi o seguinte: “Mas isso não é nada...“ A segunda iniciou, então, uma história de sofrimentos incomparavelmente mais terríveis e dignos de uma ópera que os sofrimentos da primeira.
Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.“ Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas.“ Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não “evangélico“), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, como se estivessem orando. Não rezando. Reza é falatório para não ouvir. Orando. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas. Também para se tocar piano é preciso não ter filosofia nenhuma). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.“ Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.“ Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.“ E assim vai a reunião.
Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em “U“ definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: “Meus irmãos, vamos cantar o hino...“ Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto... (O amor que acende a lua, pág. 65.)